
Queridos, esta notícia alegrou e muito meu coração. Já há muito tempo vejo igrejas batistas sendo inauguradas, porém, sem nada do cerne Batista, a não ser o Batismo. Pois bem, leiam:
No último sábado, dia 26 de maio de 2012 foi
organizada a ORDEM DOS PASTORES BATISTAS CLÁSSICOS DO BRASIL. A reunião ocorreu
nas dependências da Igreja Batista Boas Novas do Rodoanel em Carapicuíba, São
Paulo, Brasil. O encontro, além de criar a organização, gerou um manifesto, o
qual transcrevemos a seguir, autorizando toda a mídia interessada a publicar o
texto para o conhecimento da coletividade evangélica:
Há menos de cinqüenta anos havia um jeito
próprio de ser batista. Na ortodoxia doutrinária tínhamos uma mesma
hermenêutica para a interpretação bíblica. Havia seminários credenciados no
preparo de pastores. Havia editoras confiáveis para a aquisição de literatura
teológica de alto nível. Havia confissão doutrinária nas instituições de ensino
teológico. Não havia discussão pneumatológica. Éramos todos conservadores: não
aceitávamos o falar em línguas estranhas como dom atual do Espírito Santo, não
tínhamos curandeiros na prática de supostas curas, não admitíamos profecias ou
revelações extra-bíblicas e não possuíamos pastoras ou apóstolos no rol de
obreiros eclesiásticos.
A liturgia de culto era do tipo reformada. O púlpito ficava no centro das
atenções, pois a pregação bíblica tinha importância crucial. A música era
religiosa, era sacra, direcionava a igreja no ato da adoração, transmitia
mensagens cantadas e apelava evangelisticamente ao pecador inconverso. Não
havia "números especiais", mas "participações no culto".
Não havia "equipes de louvor", mas músicos, cantores, orquestra, coro
e instrumentistas. Os oficiais mantinham reverência, uma postura de formalidade
sagrada, apresentando-se bem trajados, pois compreendiam estar realizando algo
sublime.
Os pregadores buscavam a excelência, numa linguagem sadia e rica, numa prédica
bem lógica e num sermão bem formatado, pois criam estar formando opiniões e
entendiam que seus auditórios eram compostos de pessoas inteligentes e
sensatas, que cresceriam na cultura e no conhecimento bíblico.
As relações entre igrejas eram de, no mínimo, entre "co-irmãs", isto
é, que tivessem o máximo de pontos de igualdade e o mínimo de divergências.
Assim, era comum o intercâmbio entre igrejas batistas, às vezes entre batistas
e protestantes, mormente presbiterianos, mas praticamente nunca com igrejas
pentecostais.
Os ritos de oração eram ordeiros: alguém orava e outros acompanhavam com
"amém" intercalado, ou diziam pequenas frases baixas, para não
atrapalhar nem quem orava e nem o auditório. Os crentes possuíam ética
comportamental por onde iam: não participavam de danças ou bailes, suas filhas
não celebravam aniversários de quinze anos em programação idêntica a das
debutantes seculares, não iam a cinemas e teatros com programa e auditório
indecentes, não bebiam nem em casa e nem socialmente, não falavam palavrões,
não contavam piadas chulas, não participavam de arruaças, não compartilhavam de
cultos ecumênicos, não assistiam novelas imorais.
Os pastores tinham postura diferenciada na sociedade: não faziam dívidas que
não pudessem pagar; andavam decentemente trajados e não participavam de
diversões que colocassem em risco sua postura sóbria e solene de ser; eram
hospitaleiros e queridos; buscavam aprimorar sua cultura; tinham sólida
formação teológica e sabiam defender a sua fé; eram leais no matrimônio, cordatos
nas relações, graves em suas colocações; não compactuavam com os pecados do
rebanho, mas disciplinavam com coragem e determinação; não pregavam auto-ajuda,
mas anunciavam o "assim diz o Senhor".
Pastores batistas não participavam de organizações pentecostais, não aceitavam
ceder a fé em prol do convívio pacífico com outros cristãos. Eram leitores
contumazes, eram mestres do bem, eram elegantes em suas colocações, eram
destacados na sociedade.
A Ordem dos Pastores funcionava como um centro de reciclagem teológica, de
recuperação espiritual, de convívio com os pares e de referência para o
ministério. Seus encontros eram todos considerados solenes, não havendo espaço
para transformá-los em meras reuniões informais de amigos. Tudo era visto com
extrema importância e valor.
Mas meio século se passou. O tempo trouxe mudanças radicais na sociedade, nas
regras sociais, e, para surpresa e decepção nossas, nas igrejas e na postura
pastoral dos batistas.
A hermenêutica tornou-se de múltipla escolha. Hoje a filosofia que impera na
interpretação bíblica é a relativista: o que vale para uma igreja, ministério,
pastor, época ou situação podem variar inesgotavelmente. Cada um interpreta a
bíblia a seu bel-prazer.
Não há mais um seminário ou uma rede de seminários dignos para preparar os
pastores; hoje qualquer um busca preparo onde desejar, independentemente da
confissão de fé que a instituição tenha. Assim, há pastores formados em
instituições pentecostais, ecumênicas, fundamentalistas, protestantes e batistas
liberais. A literatura evangélica consultiva tornou-se extensa e
comercial. A cada mês surgem novas versões bíblicas, novas teorias da
Alta Crítica, novas filosofias de ministério, novas propostas de crescimento de
igreja, novos sistemas mirabolantes de revolução eclesiástica, e nossos
obreiros, seduzidos pelo crescimento rápido, fácil e abundante, cedem ao canto
da sereia e à lábia da serpente.
Hoje é "pecado" dizer-se cessacionista. Mais da metade dos pastores
batistas crêem em manifestações pentecostais, ainda que veladas, ainda que não
confessadamente como sinais do Batismo do Espírito Santo. Outros, muito mais
ousados, transformaram suas igrejas em autênticas agências neopentecostais, com
cópias malfeitas do sistema dessas seitas: noite dos empresários, sessão de
descarrego, quebra de maldições etc.
Há igrejas batistas com ações tão pentecostais que chegam a assustar os
próprios membros de igrejas carismáticas. Há pastores que procuram
"açucarar" a questão pentecostal, tolerando quem faz suas investidas
em casa ou em reuniões de grupos pequenos, sem causar tumulto no ato público
geral. Outros tentam conciliar o irreconciliável, tecendo longos discursos
inócuos que não dizem absolutamente nada. Há ainda os que se sentem tão doutos,
tão gabaritados nas línguas mortas que crêem ser os próprios oráculos da fé,
aptos para interpretar a pneumatologia à luz de sua própria auto-suficiência.
O púlpito foi para o canto ou transformou-se em apetrecho desnecessário. A
plataforma das igrejas transformou-se em palco para shows. Normalmente os
instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos e outros elementos de mídia
ocupam todo o espaço. Não há diferença dos palcos de programas
televisivos. Geralmente, o pastor é o animador de auditório. Há os dançarinos,
que ocupam a parte de baixo, rapazes e moças, com roupas de balé ou de
candomblé (esvoaçantes e de tecidos soltos) fazendo coreografias de acordo com
o ritmo, com o tema ou com o momento vivido no culto.
Os músicos seguem a moda: ou tocando rock ou músicas chamadas de
"comunidade, louvor e adoração" ou emotivas como as dos mantras da
Lagoinha. Geralmente há as "ministrações" que são simulacros de
manifestações pneumatológicas, onde os dirigentes dizem receber mensagens, falando
"assim diz o Senhor". Há também aqueles "ministradores de
louvor" que fazem pequenos sermões entre músicas, ocupando praticamente o
culto todo. Na hora do sermão do pastor não há mais o que pregar ou não há mais
tempo ou não há mais paciência para ouvi-lo. Na verdade diluiu-se o púlpito em
cápsulas de nada.
Hoje se paga para alguém louvar a Deus. Convidam-se grupos de sucesso, cantores
de mídia ou "testemunhadores" profissionais que consigam atrair
grande público, aos quais se paga um bom cachê, além de dividir a oferta da
noite; práticas essas neopentecostais declaradas, que se transformaram em praxe
moderna de cultos protestantes.
Os pregadores perderam a homilética, transformando-a em prática de palestras
seculares de auto-ajuda. Não há mais diferença entre prédica, sermão, oratória
sacra e palestra de auto-ajuda. A tecnologia, que deveria ser apetrecho para
auxiliar os palestrantes, tornou-se moda e muleta, pois os pregadores modernos
não sobem ao púlpito sem um notebook e uma tela para datashow. Seus sermões estão
cheios de cliparts, de powerpoints, de músicas de Yanni ao fundo, um misto de
paganismo com palestra empresarial. E os seus temas? "Matando sete leões
por dia", "como vencer as barreiras", "a arte de
transformar derrotas em vitórias" etc. Geralmente, seus compêndios
preparatórios são as publicações da internet, são os ícones da mídia evangélica
que publicam em pequenas quantidades as suas adaptações do que aprendem em
palestras de hotéis e cursos de vendas. Há pastores que se limitam a comentar
as manchetes dos jornais do dia ou ler as orelhas dos últimos livros da editora
preferida ou então tecem críticas sobre política, novelas, esportes ou
ainda sobre eventos denominacionais. Falar sobre Céu, Inferno, salvação,
perdição, moral, espiritualidade, ética, tudo isso fica para alguma resenha no
boletim ou algum suposto curso teológico para leigos, que geralmente não passa
de um livreto americano mal traduzido e mal aplicado. Resultado: igrejas às
vezes até cheias, porém fracas, sem bíblia, sem doutrina, sem espiritualidade.
A linguagem no púlpito tornou-se também
coloquial. No afã de transformar a prédica em algo inteligível para todos,
ousou-se mudar também a língua, rebaixando-a ao seu mais ínfimo nível. Assim,
não é raro ouvir palavrões na pregação. Palavras feias, chulas, frases de
mídia, chavões, português mal aplicado, tudo ao gosto da modernidade. Assim
como a mídia faz questão de trazer a linguagem dos antros e dos redutos da
imoralidade para a tela e para os lares, os púlpitos refletem também a mesma
pobreza, mau gosto e qualidade: púlpitos feios, chulos e pecaminosos.
As igrejas batistas passaram a não se distinguir mais em seus distintivos.
Assim, intercambiar ou fazer coisas com igrejas de qualquer fé e ordem
transformou-se em algo normal. Já é possível ver vigílias entre igrejas
batistas, pentecostais e neopentecostais. É comum ver igrejas batistas e
igrejas católicas realizando atos sociais e cultos ecumênicos. Tornou-se
prática habitual a realização de "marchas para Jesus" ou "louvorzões"
ou "congressos", com "ministrações" pentecostais em seu
bojo. Pastores batistas, inclusive pessoas da diretoria da Ordem dos Pastores
Batistas do Brasil e das convenções brasileira e estaduais, participam de
organizações de pastores ecumênicos, onde seus presidentes são
"apóstolos" ou "bispos", sem o menor constrangimento. Numa
convenção estadual, o seu executivo é tesoureiro de uma organização ecumênica
de pastores. Com efeito, os limites do aceitável e do não recomendável
transformaram-se em nada!
O ministério pastoral batista transformou-se de forma aviltante. Hoje nós já
temos apóstolos. Sim. O que era considerado heresia há cinqüenta anos (era
consenso geral que apóstolos foram as testemunhas oculares do ministério de
Jesus, incluindo sua morte e ressurreição e estava restrito aos doze, ou,
quando muito, ao grupo próximo dos doze), hoje transformou-se, pela atual
ciência da má interpretação bíblica, uma "opção ministerial", uma
"restauração do ministério cristão". Tomou-se o termo, deu-se a
tradução e aplicou-se de forma contemporânea a sua eficácia. Então, temos hoje,
no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, os primeiros apóstolos batistas
convencionais.
Não diferindo na má interpretação hermenêutica, temos atualmente pastoras.
Mulheres, que antes serviam a Deus nas qualificações e ministérios bíblicos
claros e definidos, agora invadiram o pastorado também. Claro, sob a ótica e a
égide dos tempos modernos, das supostas "conquistas", as mulheres
precisavam tomar também esse "reduto machista", que é o ministério
pastoral. Já temos mais de duzentas pastoras batistas convencionais. Os
seminários batistas não apenas aceitam a realidade como já mantém cursos
específicos para suprir essa "demanda eclesiástica". Há cinqüenta
anos isso era impensável, porém hoje se considera "pecado" e
"opinião politicamente incorreta" ser contra o pastorado
feminino. Nossas instituições cooperativas posicionam-se cada vez mais
favoráveis. E os pastores que mantém sua fé cristã batista ortodoxa são cada
dia mais execrados, sem espaço, sem opinião, fadados e relegados ao ostracismo
e à marginalidade funcional.
Com tudo isso, a nova moralidade também tomou conta de nossas igrejas. Não há
mais limite entre o sacro e o profano. Hoje há bailes dentro das igrejas. Há
festas de fantasias. Há "baladas". Casamentos há que terminam seus
festejos com verdadeiras discotecas nos salões sociais. A bebida alcoólica
transformou-se em coisa comum. O sexo entre jovens e adolescentes agora é
tolerado. Há igrejas distribuindo preservativos às uniões de jovens. Há
acampamentos que terminam em bebedeira. Há igrejas batistas que
participam do Carnaval com escolas de samba e com bailes de máscaras. Estamos
numa situação tão ridícula que custa-nos a acreditar. Já há sex-shop gospel!
Junto a isto, soma-se o grave pecado dos "teólogos da corte", frase
cunhada por um padre católico ortodoxo. É a mistura entre a Igreja e o Estado,
a troca de favores, o recebimento de terrenos do Estado para a construção de
igrejas; os pastores a transformar seus púlpitos em plataformas políticas ou em
trampolins para se lançarem candidatos a funções públicas, igrejas que se
tornam meros centros de convivência social a serviço da política, congregações
que recebem verbas do governo para realizar aquilo que deveriam fazer às suas
próprias expensas. É o mesmo que aconteceu com Israel no passado, é o mesmo que
aconteceu com a igreja romana e Constantino, e é o mesmo que acontece agora
entre batistas e os partidos trabalhistas ou governamentais desta época.
Religião e política misturadas.
A nossa Ordem de Pastores está realmente representando o ministério pastoral
batista? Está ela contribuindo para a nossa edificação, reciclagem teológica,
fundamentação bíblica e compartilhamento fraterno sadio? Ou estaremos nos tornando
"peixes fora d'água" no meio de um oceano de novidades e de práticas
incompatíveis com os ensinamentos bíblicos que recebemos e nos quais cremos?
A impressão que se tem é que temos que pedir desculpas aos colegas cada vez que
nos afirmamos cessacionistas ou que não apoiamos o ministério pastoral feminino
ou que não cremos em apóstolos modernos ou que não aceitamos sistemas
mirabolantes de crescimento ou que divergimos de campanhas esdrúxulas de 40
dias, de 100 dias, de semanas ou de novenas.
Parece que é crime ser batista tradicional e clássico no meio dos colegas
modernos, que são a vasta maioria. Somos considerados retrógrados,
quadrados, ultrapassados, imbecis, xiitas, conservadores, fundamentalistas,
reacionários, museus ambulantes, doentes mentais etc. Para um bom convívio,
temos de dizer que "juntos somos mais" ou "minha vida,
impacto para as nações". Temos que receber os dvds das juntas missionárias
cheias de coreografias e aceitar isso como bom. Temos que cantar a mesma
música, rezar na mesma cartilha, praticar a mesma campanha, bajular os mesmos
ícones, ler as mesmas aberrações, tudo em nome do "bom convívio e da
harmonia". E bem sabemos: não seremos convidados sequer para fazer uma
oração silenciosa, uma vez que os cargos são marcados, numerados e direcionados
a quem aglutina, a quem bajula, a quem aceita tudo.
Não foi isso que os saudosos pastores Salvador Farina Filho e Rubens Lopes, em
São Paulo, e José de Souza Marques, na Bahia, pensaram, ao criarem as ordens de
pastores batistas de São Paulo e do Brasil, respectivamente (1942 e 1940).
Sem nenhum cunho separatista ou de cisão pela cisão, queremos registrar o nosso
protesto contra toda essa situação teratológica que vivemos neste início do
século XXI e fazer uma proposta para ações concretas de retorno à sensatez, à
sã doutrina e aos valores basilares de nossas instituições.